Hoje resolvi postar algo diferente, talvez queime no mármore, mas não vou sozinho, vamos eu, Marco Aurélio (de quem surrupiei este texto) e o Padre Levedo.
Apresentamos aqui um ponto de vista diferente da história bíblica; uma linguagem herege?Talvez, mas é engraçada:
Elias, a seca e a viúva (I Reis 17)
No último capítulo (lá se vão três meses), vimos que a situação no Reino do Norte ia de mal a pior. Enquanto Judá vivia tempos de calmaria, com o piedoso Asa no trono, em Israel cada rei coroado era pior que seu antecessor. Essa série culminou com Acabe que, não contente em permitir que o povo adorasse outros deuses, empenhou-se ele mesmo em irritar a Javé. Para começar, casou-se com Jezabel, e passou a adorar o deus Baal. Não só isso: o rei mandou erguer um templo em Samaria em honra a Baal, para concorrer com o templo de Jerusalém, dedicado a Javé.
Lá de cima, Javé assistia a tudo isso e tentava manter-se calmo. Sentia um tremor no canto do olho direito e no lábio superior, e procurava conter-se. Sabia que, se deixasse sua ira manifestar-se de forma plena, destuiria não só Israel, mas, no mínimo, metade do Sistema Solar. Então respirava fundo, contava até 10 trilhões, e tentava escolher um profeta que pudesse enfrentar a audácia de Acabe. Pensou, pensou, e acabou escolhendo Elias.
Elias era um profeta da pequena cidade de Tisbé, em Gileade. Era um bom rapaz, trabalhador, disciplinado. Pouco conhecido fora de sua cidade, surpreenderia a todos quando começasse a falar em nome de Javé. Perfeito. Feita a escolha, Javé foi ter com o profeta.
— ELIAS!
— Quê?
— MANÉ "QUÊ"! SABE QUEM ESTÁ FALANDO?
— Assim, pela voz, não. Se você aparecesse ia facilitar um bocado.
— EU SOU O QUE SOU!
— Eu também, ué. Aquela pedra ali também. Que coisa... Olha, eu tenho mais o que fazer e...
— CALABOCA! EU SOU É DEUS, TÁ ME OUVINDO? DEUS!
— Deus, é? Qual deles? Tem um monte por aí, sabe como é.
— SOU O ÚNICO DEUS, PORRA! JAVÉ!
— Ah, esse. O que manda, Javé?
— VOCÊ NÃO VAI FICAR NEM UM POUCO IMPRESSIONADO?
— Deveria?
— ...
— ...
— CÊ TÁ FALANDO SÉRIO?
— Ah, pqp, até o Senhor? Por que é que todo mundo me pergunta isso?
— É ESSA SUA POSTURA, ELIAS.
— Que que tem minha postura?
— ESSE SEU JEITÃO AÍ, SEI LÁ. MEIO...CÍNICO.
— Você acha?
— CÊ TÁ FALANDO SÉRIO?
— Argh!
— BOM, VAMOS PARAR DE PAPO FURADO. VOCÊ SABE QUE ACABE TÁ FAZENDO TUDO PRA ME IRRITAR. CASOU COM AQUELA VADIA, CONSTRUIU UM TEMPLO PARA BAAL, VIVE NAQUELAS SURUBAS SAGRADAS E NÃO SEI O QUE MAIS. EU QUERO QUE VOCÊ VÁ LÁ E ACABE COM ISSO.
— Ah, é só isso? Que bobagem!
— ...
— Ok, ok. Continue.
— UQERO QUE VOCÊ VÁ ATÉ O PALÁCIO E DÊ UM RECADO A ELE. O RESTO A GENTE VÊ DEPOIS.
Foi assim que, no dia seguinte, Elias foi ao palácio falar com o rei.
— Acabe! Trago um recado de Javé para você!
— Peraí, peraí, peraí... Quem você pensa que é para vir aqui falar comigo nesse tom?
— Sou Elias, e trago a seguinte mensagem: não vai cair chuva, nem mesmo sereno, até que eu ordene que a chuva volte.
— Hein?
— É isso. Vem uma grande seca por aí. Só vai voltar a chover quando eu mandar.
— Porra, tu é manda-chuva, é?
— ...
— Rapaz, cê tá falando sério?
— Tô porra!
— Como é que é? Guardas! Capem esse feladaputa!
Elias ia perguntar se o rei estava falando sério, mas achou melhor sair correndo. Correu até encontrar um lugar para se esconder, e estava encolhido, recuperando o fôlego, quando ouviu a voz de Javé:
— ELIAS!
— Poxa! Quer me matar de susto?
— EPA, FOI MAL. E AÍ, COMO FOI LÁ COM O ACABE?
— Falei o que você me mandou falar.
— O LANCE DA SECA? EITA! E ELE?
— Adorou, disse que é mesmo um cara muito mau, e que merecia isso.
— SÉRIO?
— Claro que não! O feladaputa mandou me capar!
— AH... CALMA, ELIAS. FAZ O SEGUINTE: CONHECE O RIACHO DE QUERITE, PRA LÁ DO JORDÃO?
— Conheço.
— ENTÃO, VÁ PRAQUELES LADOS E SE ESCONDA POR LÁ. mESMO COM A SECA VOCÊ VAI TER O QUE COMER O BEBER, NÃO SE PREOCUPE.
Elias ficou em seu esconderijo até anoitecer, e então partiu para a região do riacho de Querite. Javé não mentira ao dizer que ele teria o que beber e o que comer, mas também não dera a informação completa. Para beber, o profeta só tinha mesmo a água do rio. Até aí, nada mau. O pior era a comida: todas as tardes um bando de corvos vinha trazar pão e carne para ele. Desesperado, o profeta se perguntava:
— Quando é que eu vou voltar a ter uma vida normal?
E os corvos respondiam:
— Never more!
Água do rio e comida trazida pelos corvos. O que parecia ser o pior possível piorou ainda mais quando, devido à seca, o riacho secou. Elias foi queixar-se com Deus, que não se deu por achado: disse que tudo estava sob controle, e que ele fosse à cidade de Sarepta, perto de Sidom, que uma viúva lhe daria de comer.
Elias foi, e já às portas da cidade encontrou a viúva catando lenha.
— Com licença, senhora. Poderia me dar um pouco d'água para beber? Estou morrendo de sede.
— Pois não, meu filho. Vou ali buscar a água.
— Ah, muito obrigado. Um pãozinho ia bem também.
— Meu filho, eu não tenho mais pão. Tenho um punhadinho de farinha de trigo e um quase nada de azeite. Vim aqui pegar uns pedaços de pau para fazer fogo para cozinhar qualquer coisa para mim e para o meu filho. Depois disso, vamos morrer de fome.
— O que é isso, minha senhora? Seja mais positiva! Pode ir preparar sua comida. Mas antes pegue a farinha e o azeite que ainda lhe sobram e faça um pãozinho para mim.
— Meu filho, não me leve a mal, mas... CÊ TÁ DE SACANAGEM, NÉ?
— Ai, meu saco... Dona, faça o que eu disse. Sou um profeta, e Javé manda dizer que não acabará a farinha da sua tigela nem o azeite do seu jarro até que volte a chover.
— Hum. Sei não...
— Pode acreditar, minha senhora. Pelamordedeus, tô seco de fome e sede!
— Tá bom, vai.
A viúva fez o que Elias tinha dito e, milagrosamente, a farinha e o azeite multiplicaram-se. Por muitos dias, os três tiveram o que comer. Infelizmente, uma dieta de farinha e azeite não é a mais indicada para uma criança, e o filho da viúva morreu.
"Efeito colateral", disse Javé. "Efeito colateral meu ovo, que agora essa velha me mata", disse Elias. Confabularam por um tempo, e lá foi ele falar com a viúva.
— Me dá aqui esse defuntinho.
— HEIN?
— Me dá o moleque, rápido!
— Você está falando sério?
— PUTA QUE PARIU, E EU IA BRINCAR COM UM NEGÓCIO DESSES?
Sem esperar resposta, o profeta pegou o pequeno cadáver, levou-o para o andar de cima e o deitou na sua cama. Feito isso, clamou aos céus:
— JAVÉ, POXA, POR QUE ME FERRASTE DESSA FORMA? AGORA A DESGRAÇADA DA VELHA VAI ACABAR COM A MINHA RAÇA! ELA ME HOSPEDOU, ME DEU COMIDA, E TU MATASTE O MOLEQUE DELA. NÃO FERRE, JAVÉ!
Enquanto orava, Elias debruçou-se três vezes sobre o menino. Na terceira vez, o menino voltou a respirar e abriu os olhos. Ao ver o profeta sobre ele, gritou:
— PEDÓFILO!
— Pedófilo é uma porra, seu moleque dos infernos. Volta correndo lá pra baixo, e calado, senão eu te mato de novo.
Ao ver o filho vivo novamente, a viúva finalmente reconheceu que Elias era um enviado de Javé. Queria sair pela vizinhança contando o ocorrido, mas o profeta lhe proibiu. Ainda era um fugitivo, afinal, e Javé não dera ordens para os próximos passos. Elias precisaria ser paciente: a seca ainda duraria três anos.
P.S
Fiz algumas modificações para deixar mais light, se quiser o texto integral, leia aqui
Sobre vídeos acelerados e uma aulinha de ciências
Há uma semana
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